sábado, 14 de setembro de 2013

‘Na Serra 112 mil pessoas vivem de programas sociais’

O DESAFIO DO PREFEITO AUDIFAX BARCELOS (PSB) É MUDAR ESSA REALIDADE


Audifax Barcelos (PSB) foi o único dos quatro prefeitos das cidades em condições de ter segundo turno que venceu na primeira etapa a eleição de 2012. Mas as dificuldades não estavam apenas na disputa. Com a anexação de três bairros, a Serra passou a ser o maior município da Grande Vitória. Seja em extensão territorial, seja em população.
Passados os 200 dias da gestão, o prefeito faz um balanço desses primeiros meses e projeta três anos de dificuldades para o município. Mesmo assim, se diz animado com o cargo. Nesta entrevista ele fala sobre as prioridades da gestão, as dificuldades desses primeiros meses e os avanços. 
No campo político, comenta as expectativas para a disputa do próximo ano e seu papel nas projeções do PSB para a disputa ao governo do Estado e na busca de manutenção da representatividade na bancada federal. Mas destaca que seu foco é a administração do município e que a política ficará para 2014. 
Século Diário – Prefeito, são mais de 200 dias de gestão e o senhor assumiu em uma situação financeira bem complicada. Como está a Serra hoje?
Audifax Barcelos – Este mandato está muito diferente do meu primeiro em todos os sentidos. Ser prefeito hoje tem várias dificuldades, mas estou feliz, animado, passando esses dias todos com muita dificuldade. Estou gastando muito minha energia para dentro da Serra. Algumas lideranças vêm me cobrando, até por ter sido deputado federal, de sair um pouco da Serra. Mas não tenho tempo para isso. Minha presença dentro da administração é fundamental para arrumar a casa. E arrumar a casa em todos os sentidos. É o que eu fiz nesse primeiro momento. Atendendo fornecedores, com problema de pagamento no município. Houve de fato uma queda na receita da Serra, assim como em outros municípios, mas na Serra isso foi muito forte.
– O senhor se refere ao fim do Fundap?
–  A questão do Fundap [Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias] foi muito forte e também o passivo que a gente tinha. Gastei muito tempo para fazer projetos. Vislumbrei também que os próximos três anos não serão fáceis. Estou gastando este tempo para elaborar projetos. Com esses projetos em mãos, vamos buscar financiamento com o governo do Estado, com o governo federal e outros órgãos financiadores. Ao mesmo tempo, estou arrumando a casa dentro da cidade, do ponto de vista de obras paradas, do pagamento de dívidas, buscando melhorar a receita no município. Diminuímos o número de cargos comissionados, acabamos com as comissões. Fomos o único município a criar um plano de incentivo à aposentadoria para diminuir a folha. Conseguimos quase 200 funcionários que se inscreveram para se aposentar. Paralelo a isso trabalhei para aumentar receita. Instalamos o protesto. Muitas pessoas que têm dívida ativa estão sendo protestadas. É lógico que estamos fazendo isso em cima de médios e grandes devedores, não estamos fazendo isso com pequenos devedores. Nós, prefeitos, precisamos romper com essa cultura do medo. Foi criada uma cultura nos meios políticos, entre os prefeitos, que é a cultura do medo. 
– O senhor está se referindo à questão da independência dos municípios?
–  Foi instalada na classe política essa cultura do medo. São controles excessivos e vai piorando ano após ano, esse controle excessivo na administração pública, e nós prefeitos, secretários, deixamos de ser empreendedores, deixamos de buscar alternativas, porque hoje tudo é não pode, não pode. 
– Tem sempre o fantasma da improbidade...
– Tem o fantasma da improbidade, tem o fantasma dos controles, que tem um lado bom por causa da transparência e da democracia, mas isso não pode nos trazer essa cultura do medo que faz com que deixemos de ser empreendedores, inovadores. Mas estou feliz, gosto de ser prefeito. Gosto muito mais de ser Executivo do que Legislativo. Estou mais próximo da população hoje. Priorizei a saúde, porque acredito nisso, que pode melhorar. Acredito que o sistema público é o caminho para mudarmos a saúde. A minha população precisa muito disso. É a grande demanda da cidade. E neste mandato estou apostando nisso. No meu primeiro mandato apostei na educação e agora estou apostando muito na saúde. 
– E a questão da saúde na Serra não é só da Serra, porque o município acaba absorvendo as demandas de outros municípios, sobretudo do norte do Estado.
– Nós absorvemos o sul da Bahia, o noroeste de Minas. Hoje a Serra é a maior cidade do Espírito Santo. Não era até o ano passado. Os desafios hoje são maiores, a receita menor, o passivo muito grande. Essas questões deixam cada vez mais difícil ser prefeito, romper com tudo isso. Mas a cada dia sinto minhas forças renovadas para esse desafio. Minha eleição foi baseada nessa bandeira da saúde, então tenho de priorizar isso. E já conseguimos alguns avanços. A distribuição de medicamentos, que era de 55%, agora é de 98%. Os exames eram feitos uma vez por semana e agora são todos os dias. O município realizou nesse período um milhão de consultas, isso quer dizer que a população toda da Serra foi consultada duas vezes. Tive muita coragem ao retomar a UPA da Serra Sede. Era uma OS [Organização Social] que tomava conta lá, absorveu no final do ano, e logo em janeiro já tomei uma posição, porque o serviço prestado não estava agradando à população. O custo era enorme. Fiz o inverso que está no mercado e retomamos com muita força a UPA da Serra Sede. 
– O prefeito administra um município bem diferente. Um município grande geograficamente e populacionalmente, cortado por uma BR e com os bairros  separados, com realidades muito diferentes. Com grandes plantas industriais que não contribuem tanto para a arrecadação, como administrar um gigante desses?
– Esse é um grande desafio e é o meu papel de fazer. A Serra é o maior município em população. Cabe dentro da minha cidade Vitória, Vila Velha e Cariacica. A questão da BR é uma grande verdade. Se você pegar a BR no sentido Vitória-Serra, do lado direito você vai ver o comércio, as indústrias, o metro quadrado mais caro da Grande Vitória. Do outro lado não chega esse desenvolvimento. E esse é o nosso desafio, tenho colocado para minha equipe para que fiquemos atentos. Imagine a dificuldade quando uma cidade não é concentrada, o custo da manutenção da cidade. O lixo, por exemplo, que é recolhido em Carapina, e o lixo que é recolhido em Nova Almeida. Temos um bairro que está crescendo muito na divisa com Fundão e o custo é muito caro. Não posso botar uma base em Nova Almeida, uma base em São Tiago, que está crescendo, precisa de escola, saúde, desenvolvimento. Mas este é o nosso desafio e estou animado para isso. 
–  Mas a desigualdade é muito grande, não é? 
– Vou te dar um dado. Temos 112 mil pessoas que vivem à base dos programas sociais do governo federal. De uma população de 467 mil habitantes, na Serra 112 mil pessoas vivem de programas sociais. Meu desafio é mudar essa realidade. 
– Essa discussão da desigualdade passa pela implantação das transnacionais no município na década de 1970, que atraíram uma população de fora do Estado, criando bolsões de pobreza que geraram ônus sociais que são sentidos até hoje. 
– E eu tenho que ficar atento a esse movimento atual. Estamos preocupados com algumas plantas no norte, próximo da Serra, dos municípios vizinhos, e eu já mandei minha equipe prestar atenção nisso. Em função da proximidade da Grande Vitória, fecharam um hotel em Jacaraípe e ali estão sendo colocados vários funcionários dessa empresa de fora com mão de obra de fora para operar em uma empresa que está se instalando em uma cidade vizinha. Ou seja, nós não recebemos nada de ISS e as pessoas estão lá. Chega ali, fica de frente para a praia, tem um a policlínica a três quadras do hotel em que estão instalados, tem escola e toda estrutura, liga para a família e traz gente. 
– E tem a questão da segurança também...
– Os problemas sociais, com todo respeito aos trabalhadores, porque isso pode aumentar prostituição, gravidez na adolescência, drogas. Estamos falando de hoje. Temos que ficar atentos a esses movimentos. 
– Outra realidade bem diferente de sua primeira passagem pela prefeitura é que a Câmara agora conta com 23 vereadores. Como é a relação com o legislativo?
– Temos uma relação boa. Temos adversários e a gente respeita.
– Mas o prefeito tem maioria?
– Temos maioria, mas temos adversários, encaro isso com naturalidade. Tenho colocado para a equipe é bom quando ela é responsável e verdadeira, porque nos alerta e faz com que estejamos vigilantes. Acho importante para os governos ter oposição. Temos de tirar proveito disso. Enquanto gestor, é bom para mim. Se nós errarmos vai ter proporção, nas pequenas coisas, e nas grandes nem se fala. Desde o uso de carro, de conta de telefone, celular. Acho isso salutar e temos que ter maturidade para saber que isso é importante. O que nos deixa mais tenso é quando isso é usado de forma irresponsável, eleitoreira. Aí isso é ruim para a cidade, para a população. Temos que saber distinguir, mas temos que respeitar, saber que eles foram eleitos também e ter essa visão de que administração é isso, vida pública é isso. Mas estamos indo bem. Aprovaram a redução de cargos comissionados, aprovaram a aposentadoria incentivada, a cobrança de protestos. Temos conseguido apoio dos adversários porque entendem que isso é importante para a cidade. 
– Recentemente o prefeito deu uma limpa no secretariado?
–  Eu falo com muita tranquilidade não só para meus secretários, mas para todos os cargos de chefia e diretoria. Falei esta semana com toda a equipe da Saúde, é minha prioridade, a população vai me cobrar. A gestão é algo muito dinâmica e nesse primeiro ano podemos perceber de forma muito tranquila o que vai dar certo ou não vai dar. Eu tenho compromisso com os aliados, com que ajudou a me eleger, mas meu compromisso mesmo é com a população da Serra. No setor público, na política e na vida privada é tudo muito diferente. Estou com 48 anos, ano que vem 49, e vou somando. Na vida pública é 3, 2, 1 acabou. Eu não tenho mais quatro anos, no setor público cada dia é menos um dia, não posso ficar esperando as coisas acontecerem. Fizemos a troca de alguns secretários, alguns por questões pessoais e outros por questão de resultado mesmo. Mas não é pela política, e sim pela necessidade da gestão. Minha equipe é muito boa. Com todo respeito aos demais prefeitos, a minha equipe é a melhor do Estado.
– O ex-prefeito da Serra Sérgio Vidigal (PDT) é uma grande liderança política e continua tendo um capital forte no município. Vocês já tiveram embates eleitorais. Como lidar com essa disputa na sua gestão?
– É uma liderança que tem de ser respeitada. Teve sua quantidade de votos na eleição do ano passado na disputa com a gente. A gente tem de olhar para frente. Não posso gastar energia e tempo com essa questão da disputa política. Se eu fizer isso, não vou conseguir administrar e não vou sair desse momento que estou. Eu falo para a minha equipe que é preciso focar na gestão, nos resultados da gestão, na gerência, na saúde, que eu tenho colocado como prioridade, nesse momento que estamos passando. É o que eu recomendo o tempo todo para a equipe e para os políticos que estão comigo. Quando vem com uma questão política, eu digo que não é hora disso. É hora de focar na administração. Eu sou muito cobrado para fazer política, mas entendo que não é hora de fazer política. Vou ter meus candidatos no ano que vem, vou lutar por eles, mas vai ser no ano que vem. Peço perdão aos meus aliados políticos, os partidos que me deram base, mas é hora de cuidar da administração.
– A Serra é o maior colégio eleitoral do Estado e no próximo ano cada palmo do município será disputado pelos candidatos tanto proporcionais quanto majoritários. Quando o prefeito leva o Vandinho Leite para o PSB, coloca uma pessoa que sabe se movimentar bem para trazer recursos para a Serra como deputado federal. Como está articulando isso? Até porque, sua candidatura à reeleição é inevitável.
– Mas primeiro eu preciso cuidar da gestão. Se eu fizer uma boa gestão, mostrar resultado e a população estiver satisfeita comigo, eu vou ajudar essas pessoas. É natural. 
– Mas ajuda no seu processo de reeleição também. Porque se a Serra tiver um bom deputado federal captando recursos e sendo de seu grupo vai facilitar o estadual, nem tanto pela proximidade do prefeito com o governo do Estado. 
– Ajuda. Eu preciso da ajuda de um deputado federal para trazer recursos, eu preciso de um deputado federal para me ajudar em Brasília. Mas a preocupação é com a gestão. Eu tenho de fazer um bom mandato, a população tem uma expectativa muito grande em mim. Por mais que eu tenha essa dificuldade financeira este ano, a população aprova esses primeiros meses. O Vandinho é importante, é um político novo, tem habilidade, sabe fazer política, está mostrando na Secretaria de Esportes que entende de gestão também. Está ajudando o governador Renato Casagrande na Serra e fora. A vinda do Vandinho é importante para a Serra e para o PSB. Vai ajudar na manutenção dos dois deputados federais. Eu acredito na reeleição do Paulo Foletto e eu acredito na eleição do Vandinho. O PSB fez dois em 2010 e acredito que vai manter na próxima eleição e eu defendo isso. 
– Mas o senhor vai ter um papel muito importante na reeleição do governador Renato Casagrande. 
– Eu acredito que Renato não vai precisar, não. Ele está fazendo um bom governo. O mandato do Renato é de princípios e também de resultados. A população vai se surpreender durante este ano no campo da segurança, vai ver um diferencial enorme em todos os níveis na segurança. Eu defendo a reeleição de Renato até porque é a ordem natural das coisas. Se não tivesse o instituto da reeleição, poderíamos até discutir isso, mas existe. Se fosse um governo ruim, mas não é o caso do Renato. Não só por causa do PSB, da minha aproximação com ele, mas por princípios e resultados, e por ser a ordem natural das coisas, eu acredito nisso. As pessoas colocam que os dois anos e meio de Renato foram de tranquilidade, de céu de brigadeiro, não foram, não. De vez em quando vejo um ou outro colocando que não precisa de união agora, não foi bem isso. Foi um governo com muitas dificuldades em relação ao Fundap e royalties. Renato gastou muita energia no primeiro ano dele com o Fundap e muita energia no segundo ano com royalties e é isso. Agora encontra uma certa tranquilidade com a gestão. Então, os resultados vão vir, e eu acredito na reeleição dele e vou trabalhar muito para isso. 
– E qual a perspectiva que o prefeito tem em relação às redes sociais para a eleição?
– Não tenho dúvida disso. Nós, da classe política, do setor público, que não entendíamos que isso era uma coisa importante, os últimos acontecimentos serviram para mostrar que esta é e será no futuro a principal ferramenta para tudo. Tenho colocado para minha equipe que temos que rever e repensar essa comunicação. E não é só para as grandes ações, mas no diálogo do dia a dia. Nas coisas simples, se um médico não vai em uma unidade de saúde, isso tem de ser comunicado nas redes sociais. Temos que usar essas ferramentas agora, para a o dia a dia. 
– As pessoas estão incentivadas a cobrar mais?
– Muito mais. Temos que nos antecipar, estar atentos a isso, e nossa equipe tem que utilizar esse instrumento para melhorar os resultados no cotidiano. 



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